Talvez não importe
se eu amo,
se eu penso que amo
ou sei que não amo
mas queira amar.
E nem se eu finjo amar
tentando disfarçar o desamor,
ou tento insinuar o brotar
do próprio amor
ou do amor próprio.
Talvez não importe
se eu me sinto ou não amado,
ou se eu amo de fato
mesmo sem saber a quem.
E daí se não há amor,
ainda?
Ninguém há de julgar,
ninguém há de apontar pra outro alguém
na berlinda.
Havendo a intenção de amar,
aí está:
é o começo do amor.
Nem quente, nem frio,
nem morno,
tão pouco cheio ou vazio.
Um rio sem cor,
sem correnteza.
Um rio com a única certeza
de que ali está,
ali permanecerá.
Um rio sem amor
pelas águas salinas.
É um rio sem o pulsar,
tal como seria eu
sem as suas delicadas mãos finas
para me completar.
Eu nunca serei,
já sou (eu acho).
Sou também o que fui,
os rastros que deixei,
os que me abandonaram,
os que me seguem,
os que sigo.
Por que ser diferente?
Pra impressionar mais gente,
dizer que tenho, que consigo,
que posso, que faço?
Armadilha! Tolice infantil!
Ser já não é fácil,
se é que é possível.
Já me basta o meu ser.
Já me é o bastante
tentar dia após dia
a mim ser impressionante!