Janela
- Bruno Lara
- 25 de dez. de 2022
- 1 min de leitura
Eu cultivo a minha janela
como um mural de arte.
Da janela vem a magia
do eu privado e seguro aqui
com o mundo plural agitado bem ali.
Por ela passam o vento, o ar fresco,
o respiro de uma vida intensa,
a quebra de uma rotina desregulada.
Para a janela eu fujo
e lá, em pé, faço o meu refúgio.
Meu amparo, a janela é um quadro
onde eu paro e me calo
para apreciar
a vida pintada desfilar:
o jovem ansioso,
o velho cansado,
a criança sonhadora,
o homem, lado a lado, a trabalho.
O vai e vem incessante,
protagonistas e coadjuvantes
em ritmo de euforia.
Uma flautista e um violeiro,
em um perfeito roteiro,
param, sorriem e tocam para mim,
fazem de palco o meu jardim.
Recitam poesias em tarde de alegoria
em lindos cantos de própria autoria.
Sequer querem aplausos ou festim,
mas afeto caloroso de um coração sensível.
Isto eles têm de mim.
Tocam com olhar sereno
e a meiguice em cada movimento ameno.
Ocupam o meu quintal
e elevam folhas secas com alto astral.
Sobre eles, uma garoa.
Diante de mim, tarde festiva e música boa,
com palavras que são rezas ao Divino
neste aquecido encontro vespertino.
Dentro de nós, um caos organizado,
uma faísca de encontro confortante,
de medos esquecidos,
expectativas ignoradas,
corpos soltos e mãos dadas.
Ele belamente dedilha,
ela suavemente assobia
e eu derramo lágrimas de luz e alegria.
Em meu peito borbulha bondade
pela sonoridade
que, pela janela, me invade.
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