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Janela

Eu cultivo a minha janela

como um mural de arte.

Da janela vem a magia

do eu privado e seguro aqui

com o mundo plural agitado bem ali.


Por ela passam o vento, o ar fresco,

o respiro de uma vida intensa,

a quebra de uma rotina desregulada.

Para a janela eu fujo

e lá, em pé, faço o meu refúgio.


Meu amparo, a janela é um quadro

onde eu paro e me calo

para apreciar

a vida pintada desfilar:

o jovem ansioso,

o velho cansado,

a criança sonhadora,

o homem, lado a lado, a trabalho.


O vai e vem incessante,

protagonistas e coadjuvantes

em ritmo de euforia.


Uma flautista e um violeiro,

em um perfeito roteiro,

param, sorriem e tocam para mim,

fazem de palco o meu jardim.

Recitam poesias em tarde de alegoria

em lindos cantos de própria autoria.


Sequer querem aplausos ou festim,

mas afeto caloroso de um coração sensível.

Isto eles têm de mim.

Tocam com olhar sereno

e a meiguice em cada movimento ameno.


Ocupam o meu quintal

e elevam folhas secas com alto astral.

Sobre eles, uma garoa.

Diante de mim, tarde festiva e música boa,

com palavras que são rezas ao Divino

neste aquecido encontro vespertino.


Dentro de nós, um caos organizado,

uma faísca de encontro confortante,

de medos esquecidos,

expectativas ignoradas,

corpos soltos e mãos dadas.


Ele belamente dedilha,

ela suavemente assobia

e eu derramo lágrimas de luz e alegria.

Em meu peito borbulha bondade

pela sonoridade

que, pela janela, me invade.

 
 
 

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