Nos demos as mãos
numa chuvosa tarde de outono.
As minhas ásperas e inseguras,
as dela delicadas e cândidas
de uma incomum mas familiar sensibilidade.
Por poucos segundos
fomos uma só pessoa,
um só respirar,
uma cadência de uma só origem a vagar,
uma esplêndida explosão
num segundo de eternidade
do qual depende hoje a minha liberdade.
Um dia de tarde
nunca mais soltamos as mãos.
Saudade!
Já ouvi dizer que
para o amor existe segredo,
que basta procurá-lo
com persistência,
ou mesmo que é só
não correr atrás,
com certa indiferença;
que basta acreditar,
olhar ao redor
e se deixar alcançar,
como um despretensioso.
Talvez o tal "segredo",
se houver,
seja desembrulhar o amor,
não entendê-lo como um enigma,
achar-se dele merecedor.
A liberdade de nada me adianta
se não for para optar
pela prisão do lugar
que me faz sentir
o que vale a pena sentir
e ter o poder de escolher
ser
o retiro que sou.